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Quais são os efeitos da radiação no corpo humano?

Se você é fã de séries, provavelmente já conferiu Chernobyl, seriado produzido pelo canal HBO e responsável por retratar um dos maiores acidentes nucleares da história: a explosão de um reator da usina de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986. Com cenas impressionantes, o título repercutiu entre os amantes das séries e críticos de televisão.

No entanto, há muitos questionamentos sobre a fidelidade dos acontecimentos retratados na série – e o nível de veracidade dos efeitos causados àqueles que foram expostos à radiação. Para ajudar você a entender essa questão, nós explicamos um pouquinho sobre o tema e também te contamos quais são os efeitos reais que a radiação pode causar no corpo humano. Vamos lá?

Chernobyl: o acidente e a sua representação na televisão

O maior acidente nuclear da história

A explosão do reator número 4 da usina nuclear de Chernobyl é considerada, até hoje, o principal acidente nuclear da história. Em 26 de abril de 1986, um dos reatores teve um grave problema técnico e, como resultado, foi liberada uma extensa nuvem radioativa no ar, contendo grandes quantidades de urânio e grafite.

A liberação desses elementos químicos logo se espalhou por toda Pripyat – pequena cidade próxima à usina, onde os trabalhadores do complexo nuclear moravam com as suas famílias – e também pelas regiões ao redor, chegando à Rússia, à Bielorússia e a outros países do norte europeu. De acordo com a Escala Internacional de Acidentes Nucleares (INES), utilizada pela Agência Internacional de Energia Atômica para classificar a gravidade dos acidentes envolvendo substâncias radioativas, o incidente foi classificado como nível 7, ou seja, um “acidente máximo”.

Na hora da explosão, 31 pessoas morreram devido aos ferimentos sofridos ou por conta da Síndrome da Radiação Aguda, mas outras milhares também sofreram com as altas taxas de radiação no local ou nas áreas próximas. A cidade de Pripyat foi evacuada, fechada e segue inabitável até hoje, já que os níveis de radiação por toda a área ainda são considerados muito altos.

O episódio nas telinhas

O retrato do acidente em Chernobyl pela série homônima vem sendo considerado fiel em alguns pontos, como os fatos que sucederam a explosão, entre os quais estão os esforços para controlar os focos de incêndio e também a questão envolvendo o magma reativo. No entanto, há quem questione e aponte que alguns personagens desenvolvem reações um pouco diferentes das reais quando o assunto é o contato com substâncias radioativas.

Um exemplo envolve a história por trás dos bombeiros que atuam no controle das chamas da explosão, os quais mais tarde seriam chamados de liquidators. Devido à falta de proteção apropriada, esses profissionais entraram em contato com uma grande quantidade de radiação em um curto período de tempo. Como resultado, desenvolveram a Síndrome da Radiação Aguda, muito semelhante ao envenenamento. Mas antes de compreender os efeitos que a radioatividade tem no organismo humano, vamos relembrar o que é a radiação.

Radioatividade

Segundo a física, a radiação consiste na emissão de energia por meio de ondas. Alguns elementos químicos – como urânio, césio e plutônio, por exemplo – não possuem núcleos estáveis, ou seja, as partículas que os formam não possuem equilíbrio. O fenômeno resulta então na liberação de raios gama, um tipo de radiação capaz de penetrar profundamente na matéria.

Por isso, quando o organismo humano é exposto a esses elementos químicos, todas as suas células podem ser afetadas, incluindo as células que compõe o DNA. Nesse caso, a radiação torna-se capaz de alterar as características físico-químicas das células, principalmente das células reprodutivas ou das células da medula óssea.

Quais os efeitos da radiação no corpo humano?

De maneira geral, os efeitos da radiação no corpo humano são divididos entre agudos e crônicos. Acompanhe para entender qual é a diferença entre as situações. Mas atenção! Faremos uma breve comparação com o enredo da série, então se você não assistiu todos os episódios, deixamos esse lembrete para você se preparar para os possíveis spoilers, OK?

Efeitos agudos

A manifestação dos efeitos agudos da exposição à radiação acontece de maneira imediata, e aparecem quando alguém tem contato com uma grande quantidade de radiação diretamente, como acontece com os bombeiros retratados na série Chernobyl. Como mencionamos anteriormente, essa situação consiste no envenenamento do organismo devido às altas taxas de radiação, o que inevitavelmente resulta em morte.

Esse quadro ocorre de maneira gradual, já que aos poucos mata o DNA de células vitais que formam o organismo humano. A quantidade de radiação absorvida pelo nosso corpo é definida pela unidade Gray (Gy) e, em um primeiro momento, são as células do sangue que serão gravemente afetadas. A primeira fase do contato com a radiação recebe o nome de hematopoiética e acontece quando são absorvidos entre 2 e 6 Gy.

Na sequência, acontece a fase gastrointestinal, na qual se tem contato com 6 ou 7 Gy. Nesse momento, as pessoas expostas à radiação têm todas as mucosas do seu corpo comprometidas e os sintomas mais aparentes são a evacuação e o vômito com sangue, já que o funcionamento do fígado fica completamente comprometido.

Por fim, no caso das pessoas que entram em contato com mais de 10 Gy, a radiação causa a perda de sentidos, convulsões e coma. Nesse momento, a radiação começa a destruir todas as células do sistema nervoso e torna o processo irreversível. Justamente, essa é uma das maiores falhas da série. Alguém nessa etapa de envenenamento pela radiação dificilmente conseguiria manter um diálogo com outra pessoa – e provavelmente já estaria desacordado ou sedado.

O mesmo vale para as lesões na pele. É comum que a pele de pessoas expostas a altos níveis de radiação sofra descamações, mas não da maneira excessiva representada nas telas. As hemorragias internas também são comuns, mas não costumam acontecer da forma retratada.

Por fim, é importante ressaltar que não é possível ter certeza sobre qual era o verdadeiro estado das vítimas expostas à radiação excessiva, sobretudo no caso do acidente em Chernobyl. Na época, o governo soviético era extremamente fechado e impediu que as notícias se espalhassem rapidamente. Ainda, os registros foram feitos com filmes fotográficos, e as altas taxas de radiação da área comprometiam o funcionamento das câmeras.

Efeitos crônicos

Por outro lado, os efeitos crônicos da exposição à radiação se manifestam até muitos anos após o contato com a substância radioativa. Esses sintomas estão relacionados a um tipo de contato específico com esses elementos químicos e, nesse caso, a pessoa terá contato com uma quantidade significativa de radiação, mas não de maneira direta.

Em situações que envolvem acidentes nucleares de grandes proporções, como o que aconteceu na usina de Fukushima, no Japão, a radiação pode contaminar o ambiente e, consequentemente, chegar à população através da alimentação. Nesse caso, é possível que os moradores de áreas próximas ao acidente consumam água contaminada ou alimentem-se de vegetais e animais criados com alimentos também contaminados.

Dessa maneira, ao longo dos anos, a exposição constante aos elementos radioativos ocasiona doenças crônicas, como câncer de pulmão, leucemia, disfunções na tireoide e até mesmo esterilidade. Pesquisas afirmam que essas alterações nas células podem se estender por gerações e afetar os filhos e também os netos das pessoas que tiveram contato com as substâncias radioativas. Entre as gerações que sucederam os sobreviventes de Hiroshima, por exemplo, considerado um dos maiores ataques nucleares da história, é comprovada a alta taxa de infertilidade entre os familiares de pessoas que sofreram com a radiação.

Contudo, é importante destacar que os acidentes e ataques nucleares são acontecimentos considerados recentes; por isso, ainda não é possível compreender com precisão a maneira como a radioatividade pode afetar o corpo humano a longo prazo ou mesmo as gerações futuras! No entanto, é sempre importante ter em mente como esses elementos podem ser muito perigosos e como as fatalidades podem afetar até as regiões próximas de maneira bastante preocupante.