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O que é educação bilíngue?

De forma bastante ampla, o sujeito bilíngue seria aquele que possui competências em duas línguas. Contudo, embora muito se fale sobre o bilinguismo na educação, as regulamentações brasileiras ainda pouco consideram os trabalhos que vão além do ensino das línguas indígenas e da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). 

No Brasil, talvez apenas as instituições de ensino que estão nas fronteiras com outros países da América do Sul tenham um pouco mais de clareza sobre esses processos. Isso porque as duas línguas, neste caso o português e o espanhol, estão, de fato, presentes no cotidiano das pessoas.

Fora dessas condições, porém, muitas escolas vêm investindo em programas e currículos de educação internacional ou em uma segunda língua. 

Dessa forma, as instituições oferecem a seus estudantes a oportunidade de adquirir o segundo idioma e se tornarem competentes em seu uso em diversos contextos. No entanto, quais são as vantagens do bilinguismo para os estudantes? E para a sua escola? Confira o que é e o que já sabemos sobre os benefícios da educação bilíngue!

Quem é o sujeito bilíngue?

Vale pensar que ser bilíngue ou multilíngue vem, historicamente, de necessidades locais. Vejamos o exemplo da Finlândia: a língua oficial do país é o finlandês – 92% da população a tinha como língua nativa – e, de acordo com estudo feito em 2003, 69% dos finlandeses falavam mais de uma língua estrangeira. 

Os idiomas mais falados no país eram o inglês, o sueco e o alemão, encontrando ainda um espaço para o russo. Isso aconteceu porque a revolução na educação finlandesa, nos anos 70, mostrou que as políticas para o ensino de línguas estrangeiras se faziam necessárias por conta das fronteiras do país e o crescimento das relações com os países da União Europeia. 

Assim, um grande estudo foi conduzido e políticas foram implementadas. Hoje, 40 anos mais tarde, um estudante finlandês termina o Ensino Médio com diferentes graus de fluência em finlandês, inglês e sueco.

Sobre isso, a multiplicidade de graus de proficiência pode ser ou não um problema. Entender o indivíduo bilíngue é saber que se trata de uma pessoa capaz de comunicação em duas línguas, sendo uma delas a sua língua nativa. 

Dependendo de quando e como essa pessoa adquiriu um segundo idioma – vejam, adquire e não aprende -, há uma diferença no seu desembaraço com ela. A ideia da proficiência equânime nas duas línguas, hoje dá espaço ao que Grosjean (2009) coloca como uma abordagem mais ampla ao bilinguismo: aquele sujeito capaz de fazer uso social de duas ou mais línguas em seu dia a dia.

Aquisição de uma segunda língua

É dado que quanto mais horas de exposição a um idioma, mais rapidamente um indivíduo aprimora suas habilidades em relação àquela língua. O que significa que, se expormos crianças já na primeira infância a um contexto, digamos, de língua inglesa, a sua compreensão e a comunicação irão se desenvolver junto com ela. 

E se, ainda nesse contexto, essa criança tiver acesso a mais uma língua, ambas irão desenvolver-se concomitantemente. Daí a ideia de quanto mais cedo o contato com línguas estrangeiras, melhor.

No entanto, qualquer ser humano é capaz de aprender línguas a qualquer tempo. O cérebro é feito para comunicar-se, ouvir, aprender e, eventualmente, expressar-se. O grande segredo está em reconhecer as diferentes fases da vida humana, bem como as capacidades de exposição e de metacognição às quais as pessoas estão expostas.

O que eu quero dizer, em linhas bem simples, é que tanto uma criança pequena quanto um idoso podem aprender e adquirir uma língua estrangeira. O tempo de exposição e a relevância dessa comunicação é que são, de fato, o fator que regulamenta o resultado final: ter as quatro habilidades (ler, escrever, ouvir e falar) desenvolvidas e funcionando.

Educação bilíngue vale a pena!

Hoje, as escolas buscam oferecer aos seus estudantes, possibilidades de contato com uma segunda língua por diversos motivos. Um deles é que a língua inglesa se tornou, há muito tempo, a língua internacional do mercado e de trabalho. 

Ainda, a Base Nacional de Comum Curricular (BNCC) aponta o inglês como língua franca, ou seja, aquela que diversos indivíduos, nativos ou não, utilizam para comunicarem-se universalmente. Logo, para dar aos estudantes brasileiros acesso à essa universalidade, mais e mais escolas vêm investindo em programas bilíngues. 

Além disso, as instituições buscam não somente a fluência na língua estrangeira, bem como o desenvolvimento de habilidades acadêmicas, como a leitura e escrita de diferentes gêneros textuais, por exemplo.

Ainda, observações anedotais e estudos desenvolvidos ao longo dos anos demonstram que os estudantes que são expostos a mais de uma língua na instrução escolar, desenvolvem suas habilidades de comunicação e função executiva do cérebro com mais competência que os monolíngues no mesmo contexto. 

De acordo com Mariana Buckarte Panelli, em sua pesquisa pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 2015, ficou claro que “uma criança bilíngue possui maior capacidade oral, de compreensão da escrita e de seus mecanismos, assim como uma facilidade em transferir os princípios de leitura de uma língua para outra”.

Como funciona a educação bilíngue

A educação bilíngue acontece com a instrução em uma língua alvo. Certamente, nesse tocante, estamos nos voltando para as questões de escolarização, ao trabalho desenvolvido nas escolas, de acordo com suas culturas, princípios e filosofias. O que mostra que a educação bilíngue e o fazer em uma segunda língua, necessitam da intencionalidade e da sistematização, que já são comuns ao fazer escolar.

Dessa forma, não se trata apenas de falar inglês, mas de instruir e construir conhecimento utilizando a língua como instrumento e recurso para tal. O estudante de um programa bilíngue, portanto, deve ter acesso a boas práticas de sala de aula e a um processo de ensino-aprendizagem eficiente, tornando-se significativo. 

Assim, evita-se que a segunda língua seja apenas parte de seu cotidiano fora da escola, ganhando corpo, profundidade e importância. A importância do bilinguismo tange não somente o desenvolvimento de uma segunda língua, mas também as possibilidades e recursos que os estudantes podem ter. Instigar a curiosidade e saber que é possível saciá-la em mais fontes, talvez seja o ponto mais valioso desse processo todo!